“É preciso um novo modelo econômico e social para alcançarmos uma economia de baixo carbono”, analisa Frederico Freitas, pesquisador de hidrogênio verde e diretor da H2Verde. O executivo ressalta que, enquanto o Brasil discute a regulamentação deste combustível limpo, Estados Unidos e Europa estão em outro patamar. Por isso, na visão dele, será preciso inovação para atrair investidores para o país.
Frederico Freitas diz ser difícil projetar o valor que o Brasil terá em investimentos para hidrogênio verde, já que esta questão está relacionada à definição de normas para o setor.
Veja a íntegra da entrevista:
Qual o valor atual investido em hidrogênio verde no Brasil? Qual a projeção para 2024?
Dados do Ministério de Minas e Energia indicam US$ 30 Bilhões em projetos anunciados no Brasil. São projetos de infraestrutura com execuções de médio e longo prazo, fica difícil fazer uma projeção para um ano específico. Entretanto, boa parte destes investimentos dependerá da capacidade do governo brasileiro de prover marcos regulatórios e segurança jurídica para os investidores.
Quais setores da indústria mais investem em hidrogênio verde e o que explica este movimento?
Setores que emitem grandes volumes de CO2 e outros gases de efeito estufa buscam formas de “contorno” para as recentes iniciativas que buscam “taxar” as emissões de CO2. Cito o Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM) na Europa e o Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation (CORSIA) das Nações Unidas. As indústrias de mineração e siderurgia, aviação comercial e combustíveis sintéticos estão com movimentos robustos para a nova indústria do hidrogênio verde.
Quais Estados brasileiros devem se destacar em 2024 com a produção de hidrogênio verde no Brasil?
O Ceará é pioneiro no Brasil, mas tivemos anúncios recentes de projetos no Piauí e na Bahia que usam a rota de produção do hidrogênio por eletrólise. Em 2023, o Estado de São Paulo anunciou projeto de P&D tendo como base a produção de hidrogênio pelo etanol. Há uma diversidade de rotas tecnológicas e cada Estado brasileiro deve alinhar sua vocação regional à demanda por este vetor de descarbonização.
Quais fontes de energia têm os maiores potenciais para contribuir com a produção de hidrogênio verde no Brasil?
O Brasil tem abundância de sol, água e vento no Nordeste e isso foi um grande impulsionador para que seus Estados, liderados pelo Ceará, dessem a largada pelo hidrogênio produzido pela eletrólise. Também é possível produzir hidrogênio por rotas biológicas, tais como biomassa residual e também dejetos da criação de animais. Neste sentido, o agronegócio brasileiro pode assumir papel relevante fornecendo matéria-prima para produção deste BioHidrogênio e também consumindo este hidrogênio para produção de fertilizantes verdes, indispensáveis para nossa produção agrícola.
A produção de hidrogênio verde no Brasil será mais para uso interno ou exportação?
Temos potencial de atender ambos os mercados. O consumo interno de hidrogênio está intimamente ligado à capacidade de os agentes de governo estabelecerem políticas públicas voltadas a um novo processo de Industrialização sustentável no Brasil.
Quais são os desafios para a produção de hidrogênio verde no Brasil?
Precisamos equacionar questões importantes relacionadas à nossa infraestrutura elétrica, dutos de transporte e portuária. A Europa já trabalha em um desenho de dutos para transporte de hidrogênio, com previsão de interligar o Norte da África (região com grande potencial produtivo de hidrogênio) ao continente Europeu. O Brasil precisa avançar rapidamente sobre como vamos equacionar nossa deficiência de infraestrutura.
Como o senhor avalia o atual cenário no processo de regulação do hidrogênio verde no país?
Tivemos uma intensa agenda sobre este assunto no ano de 2023, entretanto, as principais decisões ficaram para 2024. É preciso aguardar a retomada do ano legislativo para acompanhar os movimentos. Cabe registrar que tanto a Europa quanto os EUA definiram uma série de incentivos para esta nova indústria e o Brasil precisará agir de forma inovadora para atrair uma parcela significativa desses negócios para cá.
Na sua avaliação, qual o papel do hidrogênio verde na reindustrialização nacional?
Fundamental, uma vez que o mundo caminha para reduzir as emissões do setor industrial. Estamos entre os dez maiores produtores de aço do mundo, entretanto nosso aço é produzido com combustíveis fósseis e certamente sofrerá com os mecanismos de taxação de CO2 que estão em fase de implementação. Se o Brasil não caminhar para a produção do aço verde, usando hidrogênio, nosso produto perderá competitividade internacional e sofreremos um processo de desindustrialização. É uma questão de sobrevivência de mercado!
Como o Brasil pode influenciar o cenário internacional por meio do hidrogênio verde?
Com um grande potencial e capacidade de produzir uma parcela significativa do hidrogênio verde que o mundo demandará, o Brasil precisa assumir o protagonismo natural que lhe cabe. Normativos e padrões internacionais não podem ser discutidos sem a presença de países que têm grande potencial produtivo. É hora de assumirmos este papel.
Que outros pontos o senhor destacaria no que se refere ao hidrogênio verde?
É importante lembrar que o hidrogênio verde é um vetor de descarbonização de setores industriais pesados, entretanto ele não é uma “bala de prata”! É preciso um conjunto de ações para que tenhamos condições de alcançar as metas climáticas pactuadas no Acordo de Paris. Isto inclui ações de eficiência energética, uso racional de recursos naturais, a correta utilização e reciclagem de resíduos urbanos e a recuperação energética de resíduos sólidos. O hidrogênio verde não resolverá tudo “sozinho”, é preciso um novo modelo econômico e social para alcançarmos uma economia de baixo carbono.
Entrevista concedida ao Jornalista Guilherme Lima do Portal EnerVision.
Publicada em 05 de fevereiro de 2024
https://enervision.com.br/hidrogenio-verde-nao-resolvera-tudo-sozinho-diz-pesquisador/
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Elaborado por Frederico Freitas
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