A produção de hidrogênio a partir de resíduos não recicláveis tem o potencial de solucionar dois grandes desafios: o descarte indiscriminado de plásticos nocivos ao meio ambiente e o aumento da oferta de hidrogênio sustentável para descarbonizar a economia global.
Existem algumas diferenciações nas formas de produção, mas o conceito é o mesmo: triturar e processar resíduos não recicláveis, principalmente plásticos e seus derivados, em câmaras térmicas a altas temperaturas.
Esse processo promove a fusão dos materiais a temperaturas muito altas, que são vaporizados para produzir uma mistura gasosa conhecida como gás de síntese (SynGas).
O SynGas teve relevância histórica em períodos de escassez energética, sendo utilizado em diferentes partes do mundo, para a produção de combustíveis sintéticos aplicados em motores de combustão interna e turbinas a gás para geração de energia elétrica.
Atualmente, o SynGas é elemento chave na indústria química, tendo em sua composição uma mistura de Hidrogênio (H2), Monóxido de Carbono (CO) e Dióxido de Carbono (CO2), sendo utilizado na sintetização de diversos produtos.
Para se “extrair” o Hidrogênio do SynGas, é possível usar a técnica de injeção de vapor de água na câmara combustão. Este processo promove uma “quebra térmica” da sua estrutura molecular reduzindo a parcela de Monóxido de Carbono (CO) e aumentando, significativamente, a parcela e Hidrogênio (H2) na composição gasosa final.
Outro aspecto interessante !
Uma parcela do SynGas produzido na gaseificação do plástico é usada para manter alta a temperatura na Câmara de Conversão Térmica, o que contribuiu para um processo autossustentável e com balanço energético favorável.
Tudo isso pode parecer muito futurista, mas projetos desta natureza já são realidade na Europa e agentes financiadores de P&D investem maciçamente nesta solução.
Vejamos dois exemplos e, ao final, o Cenário de Oportunidade para o Brasil:
Projeto de Waste-To-Hydrogen na Escócia (UK):
O Governo da Escócia aprovou financiamento de £ 20 Milhões para um projeto que prevê a produção de Hidrogênio através do lixo. Este é o segundo projeto desta natureza no Reino Unido.
O projeto tem a missão de produzir 13.500 Toneladas de Hidrogênio por ano que será utilizado para abastecer ônibus, caminhões e veículos de passeio.
Matéria prima para produção deste Hidrogênio não vai faltar, pelas estatísticas a Escócia produz mais de 500.000 Toneladas de resíduos plásticos por ano !
As estimativas iniciais, dão conta de que 60% destes resíduos (300.000 toneladas) tem potencial de serem processados e convertidos em Hidrogênio nesta nova planta industrial e a previsão de conclusão das obras deve ocorrer nos próximos 15 meses.
O projeto Waste2H2, financiado pela Comunidade Europeia:
A União Europeia estruturou Projeto Waste2H2 com foco em desenvolver estratégias voltadas para aumentar a oferta de Hidrogênio pelo uso de resíduos não recicláveis potencializando uma economia circular.
A estratégia financia Pesquisas Científicas, Desenvolvimento e Inovações Tecnológicas capazes de aumentar a eficiência na purificação do Gás de Síntese (SynGas) proveniente da Gaseificação Térmica de resíduos não recicláveis destinadas à produção de Hidrogênio Sustentável.
A primeira fase do Projeto tem previsão de encerramento para este ano de 2023, envolveu diversas instituições Acadêmicas da Europa e os resultados podem ser acessados em um Portal com informações relevantes do projeto.
E o Brasil neste contexto, como podemos explorar esta oportunidade ?
O relatório “Solucionar a Poluição Plástica – Transparência e Responsabilização” publicado em 2019 pela World Wide Fund for Nature – WWF, aponta que o Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo !
Produzimos 11 Milhões de Toneladas de Lixo Plástico por ano e, acreditem, reciclamos somente 1% deste volume. Somos um dos países que menos recicla no mundo ficando atrás de nações como Yêmen e Síria. Cabe registrar, que a média mundial de reciclagem de lixo plástico é de 9%
Diante dos cenários apresentados, a produção de hidrogênio a partir de resíduos mostra-se como uma grande chance de solucionar um problema socioambiental recorrente no Brasil, que é o lixo não reciclável, além de aumentar a oferta interna de Hidrogênio Sustentável.
Esta ação tem o potencial de favorecer diversos setores econômicos que buscam a redução de suas emissões de CO2 e outros Gases de Efeito Estufa GEE através de aplicações que envolvem o Hidrogênio Limpo e Sustentável.
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Elaborado por Frederico Freitas
O conteúdo aqui postado é apenas para fins informativos e compartilhamento de conhecimento profissional.
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